Resenha: Eternity - Éternité

Sinopse:

No final do século XIX Valentine (Audrey Tautou) se casa com Jules (Arieh Worthalter). No fim do século XX sua bisneta, uma jovem parisiense, se apaixona. O filme vai  nos contar a história desta família, através de suas mulheres, traçando a genealogia através do amor, que passa de geração em geração.

. . .

"Eternity" é baseado no romance de 1995 "L’élégance des veuves" (A Elegância das Viúvas) de Alice Ferney, e conta um século de história de três gerações de mulheres e suas famílias. O filme começa no "presente" (final do Século XX) quando uma jovem está atravessando uma ponte num dia ensolarado em Paris e, ela não sabe, irá encontrar seu futuro amor e marido. 

De repente somos levadas para o final do Século XIX, quando começa a relação amorosa de Valentine, uma jovem de 19 anos, bisavó daquela jovem da ponte. Começamos a acompanhar esse casamento, o nascimento das filhas, as amizades desse casal, o envelhecimento deles, as mortes, o casamento das filhas de Valentine, o nascimento dos netos de Valentine, as amizades e, assim, vamos testemunhando o desenrolar de vidas tecidas numa rede de relações baseadas em AMOR: entre maridos e mulheres, entre pais e filhos, entre irmãos, entre amigos,... 

Eternity recorta a vida de uma família singular e suas relações próximas, o mundo aparece como um pano de fundo tênue: as guerras, a passagem do tempo, o local que vivem... Não que não seja relevante, eles estão lá e afetam aquelas pessoas, porém o ciclo da vida dessa família que é o fio narrativo: nascimento, crescimento, casamento, envelhecimento, morte, nascimento, ... bem como o modo como eles se relacionam através dos acontecimentos. Eternity nos traz uma família psicologicamente saudável, algo tão raro de se ver em filmes e na vida. 

Para mim aqui está a potência desse filme, pois é no sociológico, ou seja, nas relações familiares, que iniciamos o desenvolvimento de nossas personalidades, nossos projetos e desejos de ser. Este filme nos mostra a força de um sociológico baseado em amor, nos mostra os desdobramentos destas relações, ou seja, pessoas inteiras, fortes, generosas, amorosas… que geram outras pessoas inteiras, fortes, generosas, amorosas,… e assim eternamente. 

É um filme difícil de descrever, pois a história dos personagens parece também ser o pano de fundo dos sentimentos e o amor nos invade de todas as formas: na fotografia, na música, nos olhares, no roteiro, na voz da narradora, nas lágrimas, nos abraços, ... diria até que é uma overdose de amor, de generosidade, de delicadeza, de beleza... A minha sensação assistindo era a de estar levitando e fiquei assim por dias... e mesmo hoje quando lembro de Eternity algo estranho me acontece, uma mistura de algo quentinho no peito, com perfume de jardins floridos e tons de rosa antigo. Esse filme me fez pensar:

Uau! que louco seria um mundo baseado no AMOR! 

Daí descobri que o diretor  vietnamita Tran Anh Hung é o mesmo do belo e premiado "O cheiro do papaia verde", e tudo fez sentido, pois assisti "O cheiro do papaia verde", lá na década de 90 do Século passado e até hoje trago a lembrança da delicadeza da fotografia e da personagem principal. Tran Anh Hung tem a capacidade de nos contar histórias que trazem cheiros, sensações, sentimentos inefáveis, quase toca nossa pele ... uma narrativa que parece acontecer em vários planos simultâneos... é uma experiência inigualável, incomparável! E li numa resenha que ele dedicou Eternity aos seus filhos... não é lindo? 

Eternity  parece um sonho que sonhamos acordadas... Tem uma narrativa lenta, onírica, poucos diálogos, uma trilha com clássicos como Bach e Debussy. A fotografia suave e quente do também premiadíssimo diretor de fotografia taiwanês Lee Ping Bing é uma obra de arte a parte! Tudo que lembro é tão delicadamente pensado e trabalhado...

  • Curiosidade: a narradora de Eternity é Tran Nu Yên Khê, esposa do diretor Tran Anh Hung e que participa de todos os seus filmes. Ela foi a protagonista de "O cheiro do papaia verde").

Enfim… esse é o tipo de filme que é preciso assistir com o coração aberto. Tem romance mas não diria que é um romance, tem melodrama que corta o coração, mas ele regenera, ... quanto mais tento explicar aqui mais parece que ele me escapa... acho que se o "amor" pudesse ser um filme, certamente seria Eternity

É por tudo isso e por muito mais que eu

Super-recomendo!   
★ ★ ★ ★ ★

. . .  

Título original: Éternité 

Eternity - Amor eterno
Filme
França, Bélgica, 2016
Diretor: Tran Anh Hun
Roteiro: Tran Anh Hung
Elenco: Audrey Tautou (Valentine); Bérénice Bejo (Gabrielle); Mélanie Laurent (Mathilde); Jérémie Renier (Henri); Tran Nu Yên Khê (Narradora); Pierre Deladonchamps (Charles); Irène Jacob (mãe de Gabrielle); Arieh Worthalter (Jules); Valérie Stroh (mãe de Mathilde); Philippine Leroy-Beaulieu (mãe de Valentine); Félix Bossuet (Jean); Anamaria Vartolomei (Margaux)

Onde assistir: tentei achar mas não localizei aonde é possível assistir… se alguém souber me avisa?